quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sobre ser Calouro e Metido a Jornalista

Hoje resolvi continuar minha etapa de arqueólogo da própria vida e acabei parando em um canto outrora muito movimentado do Orkut: a comunidade da minha turma de calouros da FAU/UnB. Eu estava em busca de fotos do nosso pré-trote e acabei encontrando algo muito melhor (ou não!)...

... os reviews que eu fazia das festas! Afinal de contas, não é fácil ser um encalhado abstêmio nos eventos da faculdade, então tinha que ter uma distração!

Aí vão os que encontrei até agora:



Review - Pega Fogo Cabaré

Quando me obrigaram a cantar q aqui na FAU só rola bacanal, não pensei q isso fosse um dia tomar tal proporções! Uma casa pacata num bairro pacato neste último fds acabou virando palco do Pega Fogo Cabaré, festa com poucas vagas e cujos participantes tinham q vir fantasiados obedecendo o tema "fetiche". Se normalmente muitas das gurias da FAU já são fetiches ambulantes, imaginem só como seria numa festa chamada Pega Fogo Cabaré, han!

E foi tudo o q eu esperava, e mais! Certas gurias estavam tão sensacionais q olhar pra elas dava um misto de satisfação e frustração, tipo como se sentiria um cão assistindo a um churrasco sendo preparado e não podendo dar uma mordida sequer na carne. A quantidade de empregadas e enfermeiras foi generosa, e ainda teve duas mulheres-gato, duas Tomb Raider e duas Amy Winehouse. Teria tbm uma mamãe noel, mas o cabaré da Moira pegou fogo antes da hora e a fantasia foi arruinada. Rolou Betty Boop, o casal TATOO e uma bombeira simplesmente espetacular!

Na parte masculina, o q mais se via era peão (o q em certos casos não parecia mto bem uma fantasia...) e militar. Gabriel conseguiu fazer uma fantasia inoxidável (q quer dizer brilhante) colando um monte de BIS pela roupa e uma frase cretina em suas costas: "quem me beija, pede BIS". E eu sou testemunha: deu certo!

Kenji inaugurou sua vida etílica vestido de samurai do sexo: um kimono de aikidô com nada por baixo e um copo de vodka, se não me engano. Léo Madeira foi de cozinheiro, e foi cruelmente estuprado no meio da festa por alguma entidade misteriosa (o menino do dedo verde, talvez). Rolou Jack Sparrow, casal anjo/demônio, até aquele cara da propaganda do AXE teve (êee Floriano...)!

Sóbrio e vestido de vampiro, fui chamado de "personificação do drácula" por muita gente da festa :D, e aproveitei minhas habilidades vampirescas para dar uma bela olhada no q estava acontecendo ao meu redor.

A casa era grande, mas não muito boa para uma festa daquele porte. Os casais simplesmente roubaram todos os lugares bons de se sentar, e o povo ficou muito aglomerado em certos pontos do lado de fora. Tinha hora em q eu precisava de um facão pra poder passar pra pegar uma Sprite, e inclusive levei um soco nas costas dum Zeca totalmente mamado no meio do caminho! Ele nem deve lembrar, mas fica aqui o registro.

O salão de danças virou um surubão em certos momentos...tinha um casalzinho pegando fogo contra a parede q dava um novo significado à frase: "gente que faz gente". O DJ era um computador impiedoso, e em certos momentos a escolha do repertório deixou a desejar. Uma hora foi só Britney Spears, tocaram Créu umas 3 vezes no mínimo e algumas boas músicas foram cortadas no meio sem explicação. Ah, e nesse salão de dança uma coisa muito bizarra aconteceu!

(preparem-se pra história de pescador!)

Estava lá eu, morcegando por aí, quando de repente sou encoxado por DUAS gurias! Sou encoxado por duas gurias safadas! Sou encoxado por duas gurias safadas e ao mesmo tempo! 

Depois dizem q ninguém tem fetiche por vampiro, han!

(O evento narrado acima tem caráter meramente sacana. Eu não sou gostosão =/)

A comida estava muito boa, a água da piscina estava numa temperatura boa, o banheiro estava limpo (!) e acho q teve bebida pra todos! Foi uma festa mto legal pra conversar, dançar forró, ficar olhando pros decotes e rolou até esses defeitos no espaço/tempo como o citado agora pouco.

O tema do ano q vem vai ser Jardim do Éden. Preparem-se!


Peeeeeeeeeeeeega fooooooogo Cabaré!


Review - IPEC

Três dias no mato aprendendo como construir edificações sustentáveis enquanto pisa em terra molhada, caga em torres e se entope de alecrim

Quem diria q seria tão inesquecível?!

A ponte pênsil ("ponte pênis?", perguntou alguém) deixou todo mundo andando como pombo durante um tempo, e certas pessoas ficaram realmente desesperadas com aquelas balançadas. A hora em q percebemos q teríamos q cagar no seco e q o banho quente seria apenas do lado do depósito de bosta foi impagável. O q teve de gente expandindo os intestinos além da conta e imitando um poodle só pra não chegar perto dessas torres foi um negócio de louco!

A primeira aula foi uma palestra bem tranquila. Depois dela, o povo foi pro bar e ficou lá até altas horas. Por motivos desagradáveis, resolvi dormir mais cedo e não posso falar muito do q rolou por lá. Acabei parando numa roda de bêbados e tive conversas incrivelmente boas (tá bom q eles nem devem se lembrar de q me viram naquele dia...)

Caiu um cacete de tempestade nessa madrugada de sexta pra sábado, e os mais azarados acordaram com suas barracas e o recheio delas encharcados. Como fui um deles, acabei tendo acho q 1h de sono e aproveitei pra ver o sol nascer lá do lado de uma das caixas d'agua.

A chuva não deu mta trégua, e msm assim começamos a mexer no adobe, super adobe, COB, CA4 (caralho a quatro) acompanhados dos mais diversos monitores. Destaque para o esdrúxulo canadense safadão q tirou uma casquinha de 60% das gurias em apenas UMA festa.
Para delírio da ala vegetariana da FAU, só quem mordia a própria língua comia carne durante as refeições no IPEC. Três dias à base de empadão, batata gratinada, feijão tropeiro, arroz, melancia, saladas, tortas, molhos, pão de queijo, peta, banana...hum...q inferno han...hum....como comi nesse lugar (e como bati a cabeça naquele maldito cacho de bananas)

As festas...não participei da primeira, mas passei um tempo na do sábado. O DJ Tesoura deu uma aula de como jogar um balde de água fria em quem estava dançando. E certas pessoas (canadenses ou não) mostraram como enfiar o pé na jaca de uma maneira ines...epa, eles nem se lembram disso! 

O consumo de catuaba foi além das minhas expectativas (q eram nulas...não estamos em idade de precisar de catuaba, né), e felizmente o número de sóbrios também foi.

Em linhas gerais, aqueles foram três dias q fizeram muito bem para mim. Nunca fiquei tão calmo, satisfeito, livre e bem disposto como durante esse curso. Vivi a vida num ritmo bem particular. Os problemas pareciam durar tão pouco, enquanto o dia parecia q não iria acabar. A cada caminhada, fiz novos amigos e descobri os amigos maravilhosos q eu já tinha mas nunca tinha me aproximado tanto assim.

Foi um fim de semana recheado de companheirismo e pessoas falando merda. E jogando feno emcima depois.

Nota 10.


Review - Trote 2º/2008

Era um dia besta, daqueles em q começamos no PA1 sentados em alguma prancheta jogando papo fora e, no meu caso, escrevendo escrotices no quadro negro. Guilherme, com um tom messiânico, pede para q eu escreva no cardápio do dia "sopa de calouro". Mal sabia eu q aquele prato seria servido com ovos, farinha, café e afins algum tempo depois...

Eu estava no PA2 com todo o material montado na prancheta quando vejo algumas veetranas avançando em direção ao PA1 munidas de grades de aço e olhares diabólicos. Maldição! O Guilherme tava certo! Rapidamente fui descoberto e escoltado até o banheiro do povo de Comunicação para me trocar. O short ao avesso e a velha camiseta dos "amigos da biblioteca" enfim seriam oferecidas para o sacrifício!

Quando cheguei ao PA1, me deparei com algo tão bizarro q só pode descrito usando a clássica expressão de Joseph Conrad, em No Coração das Trevas: o horror, o horror... Era mulher de bigode, cavanhaque e monocelha, homem de batom e esmalte, gente suja de tinta em locais inomináveis...se estivesse tocando Bonde do Rolê ao fundo, eu poderia jurar q aquilo era uma prévia do apocalypse. E como as coisas sempre podem piorar, fomos convocados para um elefante e a Marília ainda escreve na minha barriga "princesinha da FAU". WTF?!

O comboio da morte foi todo sujo e melequento cantando "aiaiai/ mas q ternura/ passei pra arquitetura!" por um percurso semelhante ao do pré-trote, mas pior, q acabou desembocando no balanço da FAU. Já estava tudo preparado: caixas de ovos empilhadas, pacotes de farinha, um pote de mel (?) e todo tipo de coisas q te faz perder a fé na humanidade. O trote mal estava começando...

Mais mamada q mãe de quadrigêmeos, Marília assumiu seu posto de veterana-mor do pré-trote e passou a apresentar a bagaça! Ao seu lado, Késsio e Tamiris mostraram seu lado "estagiários do demo" durante o trote todo! Como pode pessoas tão pacatas abrigarem tanta maldade em seus corações?? xD

Nos dividiram em equipes e fizeram com q um membro de cada fosse participar do "Soletrando". No meu grupo, o pego pra cristo foi o pobre do Carlos, q teve sua boca entupida de farofa e errou ao soletrar o nome do arquiteto Rui Otaku. Q burro, dá zero pra ele! Todos nós do grupo levamos ovada por este deslize, juntando com a farinha, o café e outros ovos q havíamos levado antes da prova.

A equipe vencedora foi a do Bruno, o calouro mais overpower de todos os tempos. Injustiça não mencionar o grupo do Rodrigo, q lutou bravamente até o fim e levou uma ovada à distância covardemente lançada pela Maíra, se não me engano. Gabriel também levou uma dessas, na cabeça, q inclusive foi fotografada no exato momento do impacto! (vide foto DSC05656.JPG)

A prova seguinte era uma maratona. Na primeira tarefa, tive q correr durante 20 segundos em círculos apoiando a testa num cabo de vassoura apoiado no chão coma Gabi Nhami atrás de mim me tacando ovo! Como se não bastasse, Marina, q estava fazendo a mesma coisa q eu ao meu lado, acabou levando um tropicão memorável e quase me levou junto! A prova seguinte era um boliche humano em q o pessoal tinha q deslizar num líquido estranho e verde para derrubar uma garrafa PET. Depois, tinham q achar uma balinha num prato de farinha e a última prova era de enfiar uma caneta dentro de outra garrafa. Dançando "na boquinha da garrafa", é claro.

O grupo do Bruno se sagrou campeão e ganhou uma sacola com garrafas d'agua e biscoitinhos.

A essa altura, o mel q passaram debaixo dos nossos sovacos (sim, elas fizeram isso) já estava grudando nas costelas e impedindo bastante os movimentos braçais. E o q nossos queridos veteranos fizeram? Nos obrigaram a dançar todos juntinhos! Quem não dançasse, levaria um jato de ketchup, vinagre e água de alho. O q aconteceu é q Késsio não resistiu aos seus impulsos malignos e não poupou praticamente ninguém! Era gente levando ketchup no olho q era uma beleza, além da ventania q colaborou jogando a farinha dos nossos cabelos nos olhos de quem tava no caminho.

Mostrando todo seu espírito empreendedor, nossos veteranos vendo q estávamos um bagaço e parecíamos vomitados de um T-Rex, resolveram nos leiloar para a platéia insana ao lado! Enquanto valores nunca antes vistos eram dados para um certo lote feminino, tinha gente disposta a pagar para o Farinha vestir alguma roupa HAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAUHAHUHA! Meu lote foi leiloado a 5,50 R$ pq eu mostrei minha cueca ;)

Após estipularem quanto cada um deveria arrecadar, vazei e fui comer no Elefante (não me falem mais de elefante!). A tarde toda sem camisa e pedindo dinheiro em rendeu 90 reais e queimaduras de sol inesquecíveis, com destaque para a singela frase q escreveram na minha barriga q acabou não se queimando por causa da tinta.


Meus calouros vão ver só...

Lista de gente q se safou:

- Keicy
- Bahiano
- Manoel
- Mariana Brahma



Q venha o 1°/2009! o/


Review - Happy Hour 11/10

Os eventos da FAU em q fui (e fiz review) tiveram todos um clima intimista e uma quantidade modesta de gente. Como maioria eram amigos, colegas e agregados, todos esses eventos contam com um repertório particular de causos e fofocas q renderam conversas memoráveis de pós-evento.

Não sei se isso se repetirá com esse Happy Hour. Por que?

Quem chegou bastante atrasado (como eu) se espantou com a quantidade obscena de gente do lado de fora do evento. Era tanto carro, tanta rodinha, até fogueira tinha! E quem raios era aquela gente? Entrar na pracinha era um desafio digno de última fase do super mario e reconhecer as pessoas naquela escuridão também!

Apesar de terem chamado um DJ muito melhor q os anteriores ou inexistentes, a música estava a volumes ensurdecedores, o q tornou a conversa na pista de dança quase impossível. Muitas vezes eu tinha q ir dar uma volta pelo minhocão pra desentupir o ouvido. Encontrei o pessoal com certa dificuldade, e outras pessoas simplesmente evaporaram ou se perderam na escuridão.

Pena q tal escuridão não poupou quem estava lá de um bêbado ridículo e suado com uma pança de dimensões caóticas dançando no meio da escadaria. O pastel de gordura esbarrou em 78,5% das pessoas da festa e proporcionou momentos constrangedores. Enquanto isso, do lado de fora, Zeca (nosso personagem mítico do pega fogo cabaré) usando metáforas de direção, ensinou a mim, Floriano, Gabianca e Pato como chegar em alguém nas festas

A proporção homem x mulher estava bastante desigual, tanto q o excedente masculino resolveu se pegar em praticamente todos os cantos! Não fiquei sabendo, muito menos vi, algum casalzinho novo da FAU. Pudera...no meio da festa tive q sair por motivos maiores e não posso mais falar mto mais do happy hour.

Mas, pelo tanto de gente q foi, acho q rola um Nintendo Wii no nosso CA, né? =D

Nota 5

E por enquanto é só! Até mais, queridos leitores inexistentes! o/

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sobre o Paulo

Descobri recentemente que não posso sair de casa de carro na noite do Réveillon sem encher meu rosto de lágrimas. Estávamos eu, meu melhor amigo, Cesinha, e a namorada dele, Luiza, indo para a Asa Norte buscar a Chana (que eu nem conhecia e depois descobri que se chamava Isabelle). Quando o carro se encontrava no meio da Ponte JK, comecei a chorar copiosamente.

Lá pra 2007, eu estava vivendo um momento de virada: era o fim do terrível ensino médio e a descoberta das coisas boas da vida no cursinho. Pela primeira vez em muito tempo eu fazia bons amigos, assumia maior protagonismo nas coisas e me propunha a coisas novas para mim, como andar pela cidade e viver aventuras na hora em que devia estar estudando e me enturmar com amigos de amigos. E, numa dessas, eu conheci o Paulo.

Paulo era um cara bastante curioso. Era um pouco mais alto que eu, tinha um sorriso meio desajeitado, sobrancelha eternamente franzida, olhar amistoso e uma assustadora calvície para sua idade. Acho que era isso o que mais chamava atenção nele disparado: onde estava o cabelo desse cara? 

Porém, o que ele não tinha de cabelo, ele tinha de simpatia. Aparentemente o cursinho... não, Brasília inteira o  cumprimentava. Ele já estava tentando entrar pra Direito há algum tempo, o suficiente para expandir seus contatos a altos níveis. E não era só isso: Paulo era uma das únicas pessoas que parecia ter uma receptividade infinita às pessoas, independente de como elas fossem. Não demorou muito para ele se interessar pelas esquisitices que eu tinha para falar e virarmos grandes amigos.

Eu demorei bem mais que ele para mensurar o quanto nossa amizade era importante. Quando menos esperava, Paulo me ligava propondo algum evento pouco promissor com nossos amigos de cursinho em comum e eu sempre soltava a clássica dos caroneiros:

"Po, adoraria ir, mas não tenho carro!"

Que prontamente era respondido por um:

"Deixa que eu te busco!"

Nada de mais, até eu descobrir como ele morava longe. De fato, se aqueles dinossaurinhos já encontraram o Vale Encantado, eles deviam ter passado perto da casa dele. E os eventos variavam entre jogar pôquer na praça de alimentações vazia do aeroporto de Brasília, matar tempo em algum lugar aberto 24h ou simplesmente rodar a cidade em busca de aventuras ou do melhor cachorro-quente. Certa vez ele me buscou em casa num sábado de manhã para levarmos o laptop dele pro conserto, pois ele tinha derramado água no teclado e quis secá-la com secador de cabelo ligado no vento quente. Desnecessário dizer que as teclas viraram uma pasta cinza quase que instantaneamente.

Tanto tempo juntos, começamos a compartilhar nossos segredos e angústias. Enquanto eu falava como me sentia desmotivado pra fazer vestibular e não fazia ideia de qual curso fazer, Paulo era mais simples: ele estava solitário e queria namorar pela primeira vez, só que todas as meninas por quem ele se interessou o arremessavam sem dó para a friendzone. Na época eu me sentia o maior comedor, pois geralmente estava acompanhado de alguma namorada extremamente bonita, sendo eu o cão chupando manga, logo o maior capacitado para ajudá-lo. Então muitas das nossas conversas, acho que a grande maioria, eram sobre conquistar mulheres. A julgar pela minha situação amorosa atual, meus conselhos na época devem ter feito mais mal do que bem.

Paulo deve ter se interessado por umas 38 garotas naquela época de cursinho, e todas elas deram um mole danado em rejeitá-lo. Ele era tão prestativo e dedicado a ponto de descobrir que a garota era apaixonada pelo céu de Brasília, tirar e revelar várias fotos deste e me levar para a papelaria do shopping para comprarmos material e confeccionarmos um álbum com essas fotografias. Mas aí, depois da abordagem fofa, ele ficava bastante assustador, indo até a casa das meninas e ligando pra elas de dentro do carro... burro pra caramba.

Ele também gostava de me assustar, principalmente enquanto me dava carona. Ele era extremamente seguro quanto às suas habilidades de motorista. Acelerava o carro a velocidades absurdas em lugares ermos, dava viradas e freadas bruscas só para ver minha cara de pânico enquanto me segurava na maçaneta da porta. Numa dessas, depois que ele resolveu assustar um grupo de pedestres na Asa Sul freando e desviando no limiar de um atropelamento, brigamos e eu falei o seguinte:

"Enquanto eu estiver com você no carro, não faça mais esse tipo de coisa."

Ele também era péssimo em Imagem & Ação. Minha nossa senhora...

Ah sim, em determinada época, nós dois já estávamos na UnB! Ele resolveu desistir de Direito e passou heroicamente para Engenharia Mecânica, enquanto eu já estava no meu quarto semestre de Arquitetura e Urbanismo! Inacreditavelmente eu ainda não tinha carro, e tinha uma namorada recém-chegada de um período de 1 ano em Caracas para cuidar. Paulo nos levou pra cima e pra baixo, nos ajudou em tudo e ficava ao nosso lado até nos momentos em que queríamos mais privacidade, sempre com muito humor e cara-de-pau.

E foi assim que aprendi a segurar vela.

Obrigado, cara!

Minha experiência mais memorável com ele foi no Réveillon de 2009 pra 2010. Nossa amiga Sílvia tinha marcado uma festinha na casa dela, no Lago Norte, e ele tinha ficado de passar na minha casa antes pra me buscar e irmos juntos. Só que a ceia aqui de casa demorou pra ficar pronta, e ele já tinha chegado. 

Resultado: lá estava ele comendo com minha família toda, e eu morrendo de pressa e angústia querendo matá-lo pela falta de urgência. Saímos de casa umas 23h45 e fomos dirigindo o mais rápido que as barreiras eletrônicas nos permitiam. Enquanto cruzávamos a Ponte JK, eu estava tentando sintonizar a Kiss FM, mas desistimos e ficamos ouvindo um culto pavoroso numa estação obscura e imitando o pastor por puro deboche.

Quando estávamos perto da casa da Sílvia, o primeiro fogo de artifício ilumina o céu. Paulo encosta o carro no acostamento, descemos, ele me abraça forte e me deseja feliz ano novo. Ficamos lá uns cinco minutos observando a queima de fogos e depois fomos curtir a festa com nossos outros amigos. Foi uma ótima noite, devo lhes dizer!

O tempo foi passando, fui dando mais atenção para a namorada e ele começou a sair mais com outros dois amigos do grupo, que pareciam na época serem melhores companhias para ele: pessoas com mais propriedade para dar dicas amorosas, mais interessantes e que também gostavam de dirigir perigosamente. Notamos nosso afastamento progressivo até um dia em que ele fugiu de uma aula que estava tendo no subsolo e foi me visitar na FAU, pois eu também estava matando aula. Conversamos sobre a vida, sobre coisas que estavam nos incomodando e depois o despachei de volta para a aula dele pois estava meio sem saco pra conversar na hora.

Sabe quando você fica um tempo sem conversar com a pessoa e ela começa a virar uma estranha aos poucos? Tava rolando isso.

Uma semana se passou mais ou menos, e num domingo de tarde recebo uma ligação do nosso amigo Marcelo, maior anfitrião do grupo:

"Luiz, tenho que te contar uma coisa. O Paulo morreu."

"Tá bom... eu fico com o videogame dele então muahuhahahaha"

"O que?"

"É, que besteira, cara! Mas diga aí..."

"O Paulo morreu mesmo."

"Não, isso é brincadeira."

Começo a ouvir o Marcelo chorando baixinho ao telefone:

"Não é, o Paulo morreu!"

"Posso te ligar mais tarde?"

"Pode."

"Tchau."

Saí do quarto e fui tomando consciência do que tinha acabado de ouvir enquanto andava até a cozinha. Meu pai e irmãs notaram que eu estava alterado e me perguntaram o que tinha acontecido. Eu só conseguia dizer "o Paulo morreu" repetidas vezes, até me acalmar e voltar para o quarto, onde ligaria uma segunda vez pro Marcelo pra saber os detalhes do ocorrido.

Paulo resolveu sair a toda no Lago Norte com o carro e foi direto num poste, que acertou o lado esquerdo de seu corpo em cheio. Morreu na hora, e seu corpo seria velado na segunda-feira, no Cemitério da Boa Esperança.

Fiquei tão transtornado que minha namorada da época veio até aqui em casa me consolar e se prestou a ir ao velório comigo no dia seguinte. Hoje, depois de terminado o namoro, posso dizer muita coisa ruim dela, mas sou eternamente grato pelo companheirismo dela nessa hora. Minha mãe, como sempre, se atrasou horrores pra sair de casa naquela manhã de segunda, e eu estava furioso com ela. Minha irmã mais velha foi por conta própria e me ligava dando detalhes de como chegar no cemitério, qual era o número da sala onde era o velório, até que sua última ligação foi em prantos e me dizendo:

"Felipe, vem logo! Jajá vão fechar o caixão! Ele tá tão machucado, coitado!"

Nessa hora, não me segurei: soltei cobras e lagartos em cima da minha mãe e finalmente conseguimos sair de casa. Como não podia deixar de ser, paramos no lugar mais distante possível dentro do cemitério, e fui correndo como um doido até a sala do velório.

De fato, corri tanto que a única coisa que me deteve foi dar de cara com o corpo do meu melhor amigo dentro do caixão. Notei meus amigos todos ao lado do caixão, os pais dele de pé me encarando e eu lá, sem reação, olhando pro Paulo de um jeito que nunca imaginaria vê-lo. Comecei a chorar histericamente e não consegui parar até depois de o enterrarem.

Uma das coisas que me arrependo, além de tê-lo deixado de lado antes de sua morte, foi meu último contato com ele. Dei um soco no seu peito e o chamei de idiota. Nessa hora, a mãe dele veio até mim e me abraçou e fiquei que nem uma criança de cinco anos falando como ele estava machucado. E ela, espírita como ele era, me disse que o corpo dele já não importava e que agora ele estava sendo recebido num lugar muito melhor.

Eu sou altamente cético quanto a uma vida após a morte, mas na hora aquelas palavras me confortaram muito. Sonhei com o Paulo umas 3 vezes desde então, e a cada visita dele nos meus sonhos ele parecia estar menos machucado, mais bem vestido e mais... cabeludo? No primeiro sonho, nos encontramos no ICC, perto da FAC, e eu fui extremamente indelicado com ele depois de uns minutos de conversa perguntando:

"Ei, você não está morto?"

E o fazendo tirar a camisa e mostrar as inúmeras cicatrizes no corpo. No segundo sonho a pergunta se repetiu e ele foi embora encabulado, e do terceiro sonho já não me lembro mais nada. Deve ter sido o que tivemos a melhor conversa e uma despedida decente.

Eu não posso sair de casa de carro na noite do Réveillon sem encher meu rosto de lágrimas, porque esse dia  e hora marcam o único momento em que o sinto perto de mim. O único pós-vida em que realmente acredito é aquele em que nossa marca perdura no mundo dos vivos depois que morremos. Paulo não teve tempo o suficiente para construir a vida que queria, arranjar uma namorada e conhecer meus futuros filhos, mas ele vai sempre viver dentro de mim e de todas as outras pessoas que o amavam e ainda sentem sua falta.

Fique em paz, cara!

(E vocês, tratem de dirigir direito e aproveitar bem o tempo com seus amigos!)

o/